Escritório Virtual – Boletim Agosto 2021

Desafio olímpico

 

Jesse Owens


The battles that count aren’t the ones for gold medals. The struggles within yourself – the invisible, inevitable battles inside all of us – that’s where it’s at.

As batalhas que valem não são aquelas por medalhas de ouro. As lutas internas – as batalhas invisíveis, inevitáveis dentro de todos nós – essas são as que importam.

                   (Jesse Owens)


 

A cada quatro anos (ou cinco, se ocorre uma pandemia…) os melhores atletas de todo o mundo se reúnem para a mais importante celebração esportiva, as Olimpíadas de Verão. “Citius, Altius, Fortius” é o lema olímpico latino que remete à busca pelo “mais rápido, mais alto, mais forte“, cujas aptidões físicas são fonte de admiração e inspiração para os demais mortais.

Junto às medalhas vêm as histórias de superação, as vitórias sobre limitações que todos conhecemos bem: uma infância humilde, poucas oportunidades, a difícil conciliação entre estudo e trabalho com o tempo e dedicação requeridos para se tornar um atleta de elite… Mas também problemas que poucos saberiam sobrepujar: lesões sérias, perseguições, guerras… Todo atleta olímpico carrega uma medalha invisível, porém tão ou mais valiosa que as peças de ouro, prata e bronze pelas quais competem.

Vencedores conhecem a fama, ainda que transitória, da conquista que certamente será superada anos depois. Alguns poucos entrarão para a história do esporte e serão lembrados por gerações. Toma-se como natural que a glória pessoal, a conquista e a autossuperação, junto com os benefícios assumidos pela condição de celebridade, são prêmios suficientes para motivar tanto sacrifício. Por isso, muitos se surpreenderam quando um dos semideuses do panteão olímpico — a ginasta norte-americana Simone Biles, considerada a maior da história da ginástica artística, com suas 31 medalhas em mundiais e olimpíadas, das quais 23 de ouro — decidiu abandonar a competição em Tóquio. Favorita absoluta para subir novamente ao topo do pódio, Biles simplesmente não foi capaz de administrar a expectativa criada em torno de si por mais um desempenho magistral. Após apresentações surpreendentemente “imperfeitas” na fase eliminatória, ela disse não confiar mais em si mesma para executar os perigosos  movimentos acrobáticos exigidos. Abdicando do papel de “super-heroína” que a sociedade lhe conferiu e indo, aparentemente, na contramão do

roteiro de superação constante que associamos ao espírito olímpico, Biles entendeu ter chegado ao seu limite, antes que seu limite lhe fosse apresentado na forma de derrota, lesão ou algo pior. E mostrou ao mundo que o sucesso do atleta não define a pessoa. “Sou mais do que minhas realizações na ginástica”, afirmou. Tornou-se mais uma torcedora e, da arquibancada, vibrou com as colegas ginastas disputando as medalhas que poderiam ter sido suas.

Poderíamos nos estender sobre outras derrotas e desistências que fizeram manchetes nesse início de Olimpíadas, mas o ponto aqui é mais simples: trata-se da definição de sucesso. A maior vitória de Simone Biles foi contra o modelo de perfeição que lhe impuseram. Para isso, bastou voltar a ser humana.

Não há sucesso se não há prazer pelo que se faz. Sobre ser a mais jovem medalhista da história, Rayssa Leal disse: “estava apenas me divertindo”. Fica a lição da jovem skatista brasileira para todos nós, atletas ou não: todo sacrifício é válido, menos o da nossa felicidade.