Escritório Virtual – Boletim Agosto 2022
Enxergando mais longe
Carina Nebula
(Nebulosa de Carina)
Telescópio James Webb (2022)
Um dos grandes desafios do mundo dos negócios é traçar cenários futuros e escolher o mais provável para, então, definir as estratégias que permitam vencer dificuldades e aproveitar oportunidades.
A expectativa para o Brasil de 2023 deveria ser o de uma forte recuperação, apoiada na retomada econômica pós-pandemia. Incertezas nos cenários externo e interno, contudo, colocam nuvens nas projeções otimistas e a maioria dos economistas está cautelosa quanto ao futuro próximo.
A Guerra na Ucrânia colocou em xeque a estabilidade conseguida na Europa desde o fim da Guerra do Kosovo (1999) e a consolidação da União Europeia com a entrada em circulação do Euro (2002). Após 20 anos de relativa estabilidade e crescimento ― só abalados pela crise financeira de 2008-09 ― o continente vê acirrar a rivalidade com a Rússia, país responsável pela segurança energética da região.
Nas Américas e na Ásia, as atenções se voltam à instabilidade política dos EUA, envoltos em conflitos internos causados pelo trumpismo e ainda longe de uma solução socialmente consensada, e à escalada militar da China que, após encerrar de forma brusca os movimentos pró-democracia em Hong Kong, sinaliza uma incorporação à força de Taiwan, o que pode desestabilizar a região e trazer para o conflito potências regionais, como Japão e as Coreias do Sul e do Norte.
Tanto o acirramento das tensões entre UE e Rússia, quanto entre EUA e China podem causar uma revisão do multilateralismo e por em risco o crescimento mundial conseguido nas últimas décadas graças à cooperação global.
No Brasil vivemos também uma era de incertezas, tanto da área econômica ― onde o equilíbrio fiscal foi descartado para dar lugar a gastos subordinados ao populismo eleitoral de curto prazo ― quanto na política ― com as sucessivas ameaças às instituições democráticas e a crescente polarização que transbordou das discussões nas redes sociais para crimes de ódio no mundo real.
Nesse contexto, a boa notícia vem de fora do nosso conturbado planeta. Colocado a 1,5 milhão de km além da órbita da Terra ao redor do Sol e dotado de tecnologia capaz de registrar a radiação infravermelha, invisível aos olhos humanos, mas que permite ver as estrelas e galáxias mais distantes, o telescópio James Webb enviou, neste mês de julho, suas primeiras imagens.
Enxergando ainda mais longe que seu famoso colega Hubble, o James Webb mesmerizou os cientistas e o público com fotografias como a da Grande Nebulosa de Carina, situada a quase 8,5 mil anos-luz e visível no Hemisfério Sul. Considerada um repositório de estrelas por conter vários aglomerados estelares, a Carina é um dos objetos mais brilhantes do céu austral. O detalhe capturado pelo James Webb foi chamado “Penhascos Cósmicos” pela sua semelhança a montanhas iluminadas à noite e mostra a borda de um berçário estelar denominado NGC 3324.
Infelizmente, as poderosas lentes do James Webb que nos permitem vislumbrar os confins do universo pouco podem fazer para entrever o futuro próximo do nosso planeta. Mas nos ajudam a confiar que o ser humano é capaz de alcançar além dos limites estreitos autoimpostos e, assim, vencer suas diferenças e preconceitos.