Escritório Virtual – Boletim Novembro 2020

O novo normal (VI)


 

Ao longo dos últimos meses* nos dedicamos neste informativo a debater as mudanças que a pandemia do covid-19 pode trazer à rotina do trabalho em escritório. Trabalho em rodízio, trabalho virtual, serviços semi-descentralizados e layouts mais amplos foram alguns dos temas discutidos.

Nas edições mais recentes, abordamos como o homem tem se relacionado com o trabalho, desde a pré-história até os tempos atuais. Vimos que nem sempre o labor sobrepujou o lazer no dia-a-dia e que o modelo de trabalho nos qual muitas pessoas são agrupadas em grandes locais (fábricas ou escritórios), com jornada diária de atividades uniforme e pré-determinada, tomando grande parte do tempo, usando meios de produção ― energia, máquinas, ferramentas, mobiliário ― fornecidos pelo “dono” da empresa (capitalista), é um padrão organizacional relativamente recente.

No mundo antigo, na era medieval e mesmo no mundo moderno pré-Revolução Industrial, o cidadão livre (sim, ainda havia escravos…) tinha muito mais tempo de lazer que um típico funcionário de hoje, além de maior flexibilidade para decidir quando e por quanto tempo precisaria trabalhar a cada dia.

 

A Revolução Industrial e o homem-máquina

Tudo isso mudou quando, no final do século XVIII a máquina a vapor deu origem à Primeira Revolução Industrial. As máquinas podiam fazer melhor, mais rápido e mais barato que os homens, que passaram a ser treinados para operá-las ou para organizar os operadores e seu trabalho. Isso exigia que muitos trabalhassem juntos e a infraestrutura necessária também demandava pessoas para cuidar da administração e burocracia requeridas ao funcionamento de tais empreendimentos.

A Segunda (energia, comunicação) e Terceira (eletrônica, automação) Revoluções Industriais vieram reforçar esse modelo organizacional. Todavia, os ganhos de eficiência que proporcionaram, reduziram a necessidade do trabalho humano. O modelo em que trabalhador virava consumidor e criava novos empregos, em um ciclo virtuoso, começou a se esgotar.

 

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Trabalho flexível: de volta para o futuro

A pandemia tem feito os administradores reavaliarem o modelo de organização industrial. Um dos paradigmas sob crítica é o do expediente de trabalho. Em lugar de se ter todos os funcionários fisicamente juntos, todo o tempo, poder-se-iam implantar jornadas flexíveis, mais curtas. Além de horários variáveis de chegada e saída do escritório fora do pico do sistema de transporte, o funcionário teria a opção de completar suas tarefas remotamente.

Esse modelo se aproximaria mais da liberdade e adaptabilidade do trabalho do cidadão da antiguidade greco-romana, do camponês medieval e do comerciante da Europa pré-napoleônica. Seria uma volta a um equilíbrio milenar quebrado pela vida mecânica, iluminação artificial e conectividade em tempo real do mundo industrial.

Essa solução, mais natural, ecológica, democrática e, porque não, produtiva (pois, como ensinou Aristóteles, “o lazer é a atividade em que encontramos nossa maior realização”) possui hoje as condições tecnológicas para ser retomada. E os escritórios virtuais são uma excelente alternativa para as empresas que quiserem proporcionar aos seus funcionários a possibilidade de trabalhar perto de casa, com toda a infraestrutura e conectividade necessárias.


 

* Confira as edições de junho, julho, agosto, setembro e outubro.