Escritório Virtual – Boletim Outubro 2021
Mens sana in corpore sano
Orandum est ut sit mens sana in corpore sano.
Deve-se pedir em oração que a mente seja sã num corpo são.
(Décimo Júnio Juvenal)
Juvenal (55 – 127) foi um poeta e retórico romano.
Sua obra Sátiras contém máximas filosóficas que se tornaram populares entre nós como panem et circenses (“pão e circo”, em referência à fraqueza dos poderosos romanos pelo prazer imediato), o já mencionado mens sana in corpore sano e o atual Sed quis custodiet ipsos Custodes? (“Quem vigia os vigilantes?).
Era um dia nublado de agosto, embora os atiradores, alinhados sob o teto de concreto de um recinto fechado, não pudessem enxergar as nuvens. E ainda que pudessem, é improvável que algo desviasse seu olhar dos alvos situados 10 metros à frente.
Entre os atiradores, um em particular tinha motivos para manter o máximo de concentração: prestes a completar 34 anos, Abhinav Bindra, até então o único medalhista de ouro olímpico da história da Índia, fazia ali, no stand de tiro construído no bairro de Deodoro para os Jogos Olímpicos do Rio 2016, sua última participação esportiva representando seu país. Herói nacional oito anos antes em Beijing, Bindra não conseguiu repetir seu feito histórico, finalizando a prova da Carabina de Ar 10m masculino em um honroso, porém sem pódio, 4º lugar.
O que explica um país de 1,3 bilhão de habitantes, que já amealhou 9 prêmios Nobel e 6 estatuetas do Oscar, ter um desempenho esportivo tão modesto? E o que explica nós, brasileiros, que podemos nos orgulhar das 37 medalhas de ouro olímpicas acumuladas desde 1920, jamais tenhamos visto um compatriota entre os agraciados pelo Comitê do Nobel ou pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood?
Em entrevista recente, Bindra lembra que, adolescente, não gostava das aulas de Educação Física, mas se apaixonou pelo tiro esportivo aos 13 anos. Para ele, a sociedade indiana dá mais importância a conquistas acadêmicas do que esportivas, sendo estas pouco valorizadas mesmo em nível familiar. Podemos contrapor que, no Brasil, o sucesso esportivo ou artístico é, frequentemente, o único meio de ascensão social e, por isso, incentivado junto às crianças das classes mais humildes, ainda que, muitas vezes, sacrificando o ensino formal.
O fato é que a separação desses dois alvos — mente sã e corpo são — em descordo com a lição do poeta romano Juvenal, tem suas consequências. O corpo fraco limita o alcance da mente. A mente débil ameaça a integridade do corpo. Nesta pandemia, manter a saúde mental e corporal tem sido o grande desafio de todos nós. Por isso, é importante proteger o corpo do engodo e afastar a mente de quem mente.
Este ano, no Japão, Neeraj Chopra, disputando o lançamento de dardo, tornou-se o segundo indiano a conquistar o ouro olímpico. Em 2019 Abhijit Banerjee, nascido em Calcutá e radicado nos EUA, ganhou o Nobel de Economia, por seus estudos para combater a pobreza global.